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A noite
alta traz um misto de pavor e encanto, quando com seu manto envolve toda a
vegetação, pintando-a de tons de preto.
O caminho de terra é poeirento, em meio
às árvores de galhos retorcidos, onde se escondem criaturas misteriosas.
Os sons noturnos penetram a alma,
produzindo tremores gélidos no viajante que segue determinado em frente.
Cães latem ao longe, enquanto tudo é
parcamente iluminado pela luz bruxuleante da lua minguante, que não passa de um
fino sorriso no céu escuro.
Havia qualquer quê de segredo no ar, o
sabor doce de magia parecia fazer cócegas no fundo da garganta, nesta noite
incomum.
Sem saber ao certo se seguia na direção
correta, prosseguia. Sentindo o vento gelado acariciar a pele exposta pelas
vestes, afastando o calor e tornando o caminhar agradável.
Era normal não saber para onde ia. De
fato, duvidava que a maior parte das pessoas tivesse certeza de que trilhava o
caminho correto. Apenas não se sentia disposto a parar, então ia em frente.
Curioso e aberto às possibilidades.
Os cabelos grudavam na pele úmida de
suor, provocando cócegas e se distraía afastando os fios da face, quando
atingiu um ponto inesperado do caminho.
A sua frente, se desdobravam três
caminhos, com aparências tão similares, como qualquer trilha de terra, em meio
a uma floresta, de noite, poderia ser.
Nada denotava que um fosse melhor do
que o outro, tão pouco que fosse pior. Porém sua experiência lhe garantia de
que jamais seriam iguais. Afinal, se o fossem, não se dividiriam.
Daí seu empasse. Por onde seguir
naquela noite mística? Nenhuma placa sinalizava o que o aguardava no final de
cada uma das estradas, se seriam fortunas ou tragédias.
O som dos cães ladrando se fez mais
próximo, até que chegou perto o suficiente que pudesse ouvir a respiração dos
animais.
Virou-se, temendo um ataque e
surpreendeu-se em constatar que nada havia na trilha em viera. Quando tornou a
se voltar para a trifurcação, a viu.
Há menos de dois passos de si,
dividindo o centro da encruzilhada, uma dama lhe sorria de forma discreta. Seus
belos traços sendo destacados pelas chamas das tochas que trazia nas mãos.
Mesmo com a pouca distância, as chamas
não produziam calor e o reconhecimento foi imediato.
Ajoelhou-se, reconhecendo de pronto a
figura de manto escuro, que lhe cobria todo o corpo, apenas sugerindo as belas
formas que ocultava.
- Salve, grande Senhora de tudo que há.
– Saudou, ousando levantar os olhos com discrição e sendo capaz de vislumbrar o
brilho das chamas avivando os misteriosos olhos negros.
Se lhe perguntassem, seria incapaz de
informar se estava de frente a
uma jovem dama ou uma idosa, pois a cada bailar
das chamas, os traços da formosa face pareciam se alterar, enquanto permaneciam
exatamente os mesmos.
A mulher o olhava com especial ternura,
como uma mãe aum filho ou uma rainha reconhecendo o valor de um leal servo.
- Me chamou. – Disse ela, com a
tranquilidade daqueles que já viveram muito e ainda sim sabem possuir todo o
tempo do mundo para viver.
Sentindo-se constrangido, por não se
recordar de ter pedido ajuda, mas acreditando em seu íntimo que realmente a
desejara, respondeu:
- Amada mãe, peço que use sua sabedoria
e me oriente, indique qual o seu caminho, para que eu possa segui-lo.
A Deusa riu, o som parecendo uma suave
carícia no corpo cansado do viajante.
- Todos os caminhos me pertencem.
Sentiu-se corar, temendo ter sido
desrespeitoso, mas percebendo que ela não parecia irritada, prosseguiu:
- Então me indique em qual caminho se
esconde minha fortuna.
E mais uma vez ela riu, fazendo tremer
a chama das tochas.
- Escolha a direção que mais lhe
agradar, jovem, e ela lhe guardará desafios e conquistas em igual medida a
qualquer outra. Cabe a ti fazer sua fortuna.
- Então não guiará com sua luz meus
caminhos, senhora? – Perguntou, tornando-se ousado devido à confusão.
Ao que a Divindade respondeu
simplesmente:
- Escolhe teu caminho e minhas tochas
guiarão teu caminhar, mas é dever seu percorrê-lo. Não espere que eu lhe prive
dos desafios que o permitirão conquistar sua fortuna, nem que eu lhe dê o que
for sem que o conquiste por próprio mérito. Jamais seria tão cruel em
atrapalhar de tal forma seu crescimento.
O viajante fechou os olhos, absorvendo
as palavras que lhe foram ditas, guardando-as em sua mente e coração.
Absorvendo a sabedoria compartilhada naqueles dizeres e a reconhecendo como o
maior dos presentes.
Quando tornou a abri-los, estava só na
encruzilhada, ainda de joelhos,
porém ainda mais disposto do que antes a explorar
todas as oportunidades que lhe ofereciam os horizontes.
Não havia caminho correto, logo
tornaria correto o caminho que mais lhe agradasse, tomando para si tal
responsabilidade, consciente de que a luz das tochas de Hécate sempre mostraria
o que o aguardava mais a frente.
Fim.