Imagem localizada no google e editada por mim. Caso encontre problemas sobre Direitos de Uso ou Autorais, favor entrar em em contato. |
Antes mesmo de abrir os olhos, sentiu a
cabeça pesada. A boca seca, com gosto amargo e desagradável anunciava a ressaca
que se fazia cada vez mais presente.
Revirou-se na cama, tentando lembrar a
noite anterior e recordando apenas do
que pareciam flashs de luz estroboscópica e corpos em movimento. Sua mente,
confusa, sentia que faltava algo e passando a mão pelo lado vazio da grande
cama, estranhou sentir o toque de algo pequeno e macio.
Abriu os olhos, ignorando a dor causada
pela claridade, enquanto focava na delicada flor vermelha deixada sobre o
lençol.
Sorriu, aspirando o perfume suave que
ainda preenchia o ambiente. Marca registrada dela.
As visitas começaram havia três anos e
cada vez ela assumia uma forma distinta, partindo antes do amanhecer e deixando
uma camélia para que soubesse não se tratar de um sonho. Era sua musa.
Via-se como mais um artista frustrado,
quando a mulher surgiu pela primeira vez. Lembrava-se da pele cor de cobre,
quase reluzente, os olhos castanhos e os cabelos em tranças grossas,
entrelaçadas com fios vermelhos. A blusa de alças, justa e decotada, e a saia
longa, estampada, em cores quentes, destacava o corpo cheio e curvilíneo. Ela
trazia um sorriso fascinante, de quem sabia o melhor segredo do mundo e jamais
iria compartilhá-lo.
Conversaram a noite toda,
compartilhando álcool e outras drogas. Quando acordara na manhã seguinte, do
seu lado, meio enterrada na areia da praia, estava uma flor e naquele dia
pintou a imagem que lhe traria a fama: Uma dama de vermelho, saindo das águas,
as tranças esvoaçando pelo efeito do vento, as ondas lambendo seus pés e a luz
do sol como se irradiasse dela própria, formando uma figura mística, forte e
sedutora.
Muitos encontros seguiram este, cada um
rendendo um quadro e uma noite mágica.
Pegou o bloco que deixava na mesa de
cabeceira, começando traçar um esboço, enquanto os acontecimentos da noite
anterior se faziam mais claros.
Estava em sua casa de campo, a
quilômetros de qualquer civilização, bebendo vinho e implorando pela visita de
sua musa, quando a campainha tocou.
Parada em sua porta estava uma jovem
garota, que mal devia ter chegado aos 20 anos, de corpo miúdo e bem magra, com
curtos cabelos loiros, de pontas cor de rosa. Usando uma calça jeans clara,
rasgada e uma blusa, com alguma estampa que não conseguia recordar. Seus
grandes olhos verdes estavam vermelhos devido às lágrimas, quando ela falou:
- Me desculpe incomodar! Mas me perdi
dos meus amigos e não consigo voltar para o acampamento.
Ele deu um suspiro irritado. Incidentes
como aquele eram comuns na região, porém nunca imaginara se envolver em um.
Permitiu que a garota entrasse e usasse
seu telefone, apenas para constatar que não havia como ela conseguir sinal para
entrar em contato com os amigos, afinal as operadoras de celular mal funcionavam
na região.
Sentindo-se contrariado, pois perdia as
esperanças de que sua musa aparecesse naquela noite, mas incapaz de deixar
aquela jovem sozinha no meio da mata, de noite. Ofereceu-a seu quarto de
hóspedes, no que ela pareceu receosa em aceitar, mas ficou.
Antes que percebessem, compartilhavam o
vinho, a jovem se mostrando uma companhia agradável, uma vez mais calma.
Não se recordava quem seduzira quem ou
como terminaram em sua cama, mas as sensações que ela despertara, permitiu que
a reconhecesse.
Montada sobre seu corpo, ela lhe sorriu
do mesmo modo que em seu primeiro encontro. Os olhos brilhando com aquele
segredo inacessível, enquanto ele gemia entregue ao prazer.
Olhou para o esboço no bloco de notas,
uma pequena jovem em meio a uma floresta fechada de araucárias, sua pele pálida
parecendo quase translúcida devido a luz, bem como o etéreo vestido esvoaçante
que usava, deixando apenas entrever suas formas miúdas, com os olhos brilhando
devido a lágrimas não derramadas. Mais uma obra-prima.
Fim.