quarta-feira, 12 de abril de 2017

Incêndio.

Imagem localizada em banco de dados e editada por mim.

         Começou como uma pequena fagulha, algo que poucos dariam atenção:

         - Chata!

- Gorda!

- Feia!

         Crianças podem ser cruéis, mesmo que não sejam capazes de entender a gravidade do que estão fazendo.

         - Se você não me der isso, não sou mais sua amiga!

         Os adultos tendem a ignorar, acharem besteira. Afinal, é só coisa de criança.

         - Não precisa chorar por isso.

- Que bobagem!

- Acho que ele gosta de você...

         Ninguém nota a pequena fagulha, até que atinja algum material inflamável e forme uma brasa, até chegar a uma pequena chama.

         - Não quero você no meu aniversário!

-Sai daqui!

- Só aceitei brincar com você, porque você tem esse brinquedo.

         Aos poucos, a intensidade da chama vai aumentando e o calor começa a se fazer notar.

         - Esquisita!

- Chata!

- Você é insuportável!

- Bruxa feia!

         Antes que percebam, o fogo vai tomando todo o ambiente e a fumaça tóxica torna difícil respirar.

         - Não encosta nela, se não você vai acabar ficando igual!

         O som do crepitar da madeira se torna insuportável, as chamas lambem a tinta da parede e assumem um ameaçador tom verde limão, destrutivo.

         - Sério que você gosta dele? Ridícula! Ele nunca ficaria com você!

         Pode parecer aterrorizante, mas trata-se de uma verdadeira libertação. Como a fênix, que arde em chamas, para depois renascer.

         - Viu a maquiagem? Que vadia carente!

         Não se preocupe, não é como se realmente houvesse alguém lá dentro. Ela não iria matá-los, nenhum deles valia que ela destruísse o próprio futuro desta maneira.

         - Piranha! Aposto que usa drogas...

- Você é tão estranha, ninguém quer transar com você!

- Dizem que ela dá pra qualquer um...

         O som dos vidros se partindo era ensurdecedor, uma chuva de cacos prateados decorando o chão do pátio, enquanto a fumaça pintava o céu noturno de cinza.

         - Pode me mostrar quem é a... O que? É você?! Ah...

         Não importava o quão antigo fosse o prédio, ele desmoronaria a qualquer instante.

         - Que cabelo horrível!

- Por que ela se veste assim?

- Nem o diabo merece ela!

         Sentia vontade de rir, dançar, cantar ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Amanhã todos saberiam, estaria em todos os jornais.

         A fumaça criava a impressão de que toda a estrutura balançava, não resistirá por muito mais tempo.

        - Dizem que ela gosta desse cantor

- Eu queria ter ido no show dele.

- Ela foi!

- Vamos pedir para que finjam ser ele e enganá-la, vai ser divertido!

         Não precisava de sangue, teria nojo de entrar em contato com qualquer parte deles. Porém aquele prédio, aquele símbolo iria ser destruído.

        - Mas ela é legal, sempre ajuda com os trabalhos...

- Ela tenta...

- Vadia!

- Puta!

         Finalmente a explosão. Todo o prédio fora a baixo. Estilhaços chegaram há três quarteirões de distância. Diversos ex-alunos dizem ter ouvido a explosão, embora morassem a quilômetros de distância.

         Porém ninguém foi atingido, não houve um morto ou ferido. Chamavam de sorte ou milagre.

         Ela ria, assistindo a tudo de longe, na superfície de seu espelho.

         Diziam que ela era boa em ver o futuro, mas nem tanto.

         Seus antigos colegas de colégio eram mais, eles previram desde a infância o que ela seria: Uma bruxa.


Fim.

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