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Começou como uma pequena fagulha, algo
que poucos dariam atenção:
-
Chata!
- Gorda!
- Feia!
Crianças podem ser cruéis, mesmo que
não sejam capazes de entender a gravidade do que estão fazendo.
-
Se você não me der isso, não sou mais sua amiga!
Os adultos tendem a ignorar, acharem
besteira. Afinal, é só coisa de criança.
-
Não precisa chorar por isso.
- Que bobagem!
- Acho que ele gosta
de você...
Ninguém nota a pequena fagulha, até que
atinja algum material inflamável e forme uma brasa, até chegar a uma pequena
chama.
-
Não quero você no meu aniversário!
-Sai daqui!
- Só aceitei brincar
com você, porque você tem esse brinquedo.
Aos poucos, a intensidade da chama vai
aumentando e o calor começa a se fazer notar.
-
Esquisita!
- Chata!
- Você é insuportável!
- Bruxa feia!
Antes que percebam, o fogo vai tomando
todo o ambiente e a fumaça tóxica torna difícil respirar.
-
Não encosta nela, se não você vai acabar ficando igual!
O som do crepitar da madeira se torna
insuportável, as chamas lambem a tinta da parede e assumem um ameaçador tom
verde limão, destrutivo.
-
Sério que você gosta dele? Ridícula! Ele nunca ficaria com você!
Pode parecer aterrorizante, mas
trata-se de uma verdadeira libertação. Como a fênix, que arde em chamas, para
depois renascer.
-
Viu a maquiagem? Que vadia carente!
Não se preocupe, não é como se
realmente houvesse alguém lá dentro. Ela não iria matá-los, nenhum deles valia
que ela destruísse o próprio futuro desta maneira.
-
Piranha! Aposto que usa drogas...
- Você é tão estranha,
ninguém quer transar com você!
- Dizem que ela dá pra
qualquer um...
O som dos vidros se partindo era
ensurdecedor, uma chuva de cacos prateados decorando o chão do pátio, enquanto
a fumaça pintava o céu noturno de cinza.
-
Pode me mostrar quem é a... O que? É você?! Ah...
Não importava o quão antigo fosse o
prédio, ele desmoronaria a qualquer instante.
-
Que cabelo horrível!
- Por que ela se veste
assim?
- Nem o diabo merece
ela!
Sentia vontade de rir, dançar, cantar
ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Amanhã todos saberiam, estaria em todos os
jornais.
A fumaça criava a impressão de que toda
a estrutura balançava, não resistirá por muito mais tempo.
-
Dizem que ela gosta desse cantor
- Eu queria ter ido no
show dele.
- Ela foi!
- Vamos pedir para que
finjam ser ele e enganá-la, vai ser divertido!
Não precisava de sangue, teria nojo de
entrar em contato com qualquer parte deles. Porém aquele prédio, aquele símbolo
iria ser destruído.
-
Mas ela é legal, sempre ajuda com os trabalhos...
- Ela tenta...
- Vadia!
- Puta!
Finalmente a explosão. Todo o prédio
fora a baixo. Estilhaços chegaram há três quarteirões de distância. Diversos
ex-alunos dizem ter ouvido a explosão, embora morassem a quilômetros de
distância.
Porém ninguém foi atingido, não houve
um morto ou ferido. Chamavam de sorte ou milagre.
Ela ria, assistindo a tudo de longe, na
superfície de seu espelho.
Diziam que ela era boa em ver o futuro,
mas nem tanto.
Seus antigos colegas de colégio eram
mais, eles previram desde a infância o que ela seria: Uma bruxa.
Fim.
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